sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009


Mundo, mundo, vasto mundo

Ainda me recordo de um certo dia do mês de agosto de 1987: no Jornal Nacional, Cid Moreira anunciava a morte do poeta Carlos Drummond de Andrade. Na época, para mim, haviam um substantivo comum e um substantivo próprio altamente enigmáticos nestas palavras, justamente "poeta" e "Carlos Drummond de Andrade". Eu tinha apenas sete anos e meio na ocasião.
Porém, marcou-me quando, pela primeira vez, ouvi versos do "poeta maior": "E agora, José?/ A festa acabou/O povo sumiu/A noite esfriou/E agora, José?/E agora, você?". E, completando aquela noite de epifania, Cid Moreira não deu seu costumaz "Boa noite". O que estava acontecendo? Quem era Carlos Drummond de Andrade?
Não demorei muito a saber. Desde pequeno, sempre gostei de ler. Isto me gerou alguns benefícios, mas também me gerou muitas decepções e tristezas - ainda que fazendo a equação entre ambas, os benefícios sobrepuljem de maneira dantesca as decepções. E foi a vontade de investigar com meus olhos as palavras que me fez chegar a conclusão de que Carlos Drummond de Andrade era, de fato, o poeta que melhor descrevia sobre nosso tempo, nossas angústias, nossas incertezas.
Drummond morreu há quase 12 anos. "Morreu de tristeza", acredito eu. A morte de sua filha, Julieta, a quem era bastante apegado - alguns teóricos chegam a defender que ele tinha inclusive uma relação incestuosa, idéia esta que não sai do campo da "teoria da conspiração" -, precipitou o fim da sua vida. Doze dias depois, o "homem taciturno" passeava pelos corredores do mesmo cemitério onde a filha fora enterrada. Desta vez, era ele quem iria ser sepultado.
"No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho". Estes versos são, talvez, a expressão mais verdadeira do homem nestes tempos de imediatismo, obstáculos e indiferença. Drummond parecia antecipar os fatos: o seu belíssimo poema "A Morte do Leiteiro" trata-se de um retrato clássico da figura do homem que, diante do medo que lhe é imposto, acaba atingindo fatalmente um pobre leiteiro que exercia seu papel profissional antes da alvorada. Drummond expressou a hipocrisia da sociedade de maneira contundente no seu "O Caso do Vestido", onde mostra o diálogo entre mãe e filha sobre algo que envolvera o passado daquela família. Enxergou o homem conflituoso e desesperado diante dos anseios da guerra em "Os Ombros Suportam o Mundo". O homem temeroso diante do seu futuro em "Congresso Internacional do Medo". O homem esperançoso diante de que, mesmo com todas as adversidades, pudesse superar os obstáculos a si impostos, como vemos em "A Flor e a Náusea". Drummond sintetizou, acima de qualquer coisa, o homem. "José", o poema citado por Cid Moreira no necrológico do itabirano, é muito bem entendido quando substituímos o nome próprio "José" pelo nome comum "homem". Todo homem vive a expectativa de dias melhores; mas que dias melhores serão esses, se vivemos necessitados da atenção alheia e o mundo que nos cerca faz com que, cada vez mais, nos sintamos sozinhos diante desta percepção?
É triste, outrossim, que o homem de hoje - aquele mesmo que Drummond atemporizou - esteja esquecido do seu comportamento predador. O homem vem involuindo, retornando ao seu estágio mais primário de evolução. Vem tornando-se, acima de qualquer coisa, um ser que busca aproveitar-se de maneira voraz sobre as fraquezas do seu semelhante. Este homem esqueceu a sua condição de ser humano, privilegiando a sua condição de bicho, onde disputa de maneira irracional e impensada, suplantando o instinto sobre a lógica. Por que nos tornamos assim?
Ao homem, cada vez mais a vida torna-se uma "Quadrilha". Tal qual neste belíssimo poema de Drummond, temos que o amor segue preceitos imediatos, mas que com o tempo não tende a se firmar. Desesperanças quanto ao amor? Um amava o outro. E aquela que não amava ninguém foi quem casou. Mas analise: aqueles que amavam, se deram mal. Restou a Lili um casamento com J. Pinto Fernandes. Não com o simples Joaquim, que morreu de desastre. Desastre mental?
Desastre mental é o que vivemos hoje em dia. Ao homem, mais vale estar em sintonia com o que é lhe imposto. Não lhe importa, por outro lado, procurar ser aquilo que a humanidade sempre sonhou - um eterno ser em evolução. O homem prefere ser um elemento comum do que destacar-se dos demais, prefere os fatos seguros e banais do que os fatos inovadores e originais. Será o mesmo pânico do "Congresso Internacional do Medo"? Um grupo musical recente, O Rappa, antes de tornar-se uma banda de concessões, fez uma canção que muito bem sintetiza este comportamento ante ao espetáculo trágico do amarelismo covarde: "Me abrace e me dê um beijo, faça um filho comigo, só não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo. Procurando novas drogas de aluguel neste vídeo, coagido, é pela paz que eu não quero seguir admitindo".

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

"Pra Que Vou Recordar o Que Chorei"? (Carlos Dafé)

Não quero mais saber de ti
Vou me recuperar, quero sorrir
Quero sorrir...
Esquecendo a quem amei,
Pra que vou recordar o que chorei?
Se uma frase já não basta
Pra dizer tudo o que sinto
Quando bate o coração...
Pra evitar o sofrimento
Não se deve, nesta vida,
Só envolver com a ilusão...


O ano acabou de começar e nada melhor que uma mensagem altamente positiva. E "Pra Que Vou Recordar o Que Chorei" é talvez o maior exemplo disto. Lançada num disco homônimo do Carlos Dafé pela WEA/Atlantic em 1977, é talvez um dos melhores exemplares para ilustrar o comportamento geral dos músicos do movimento Soul Brasil.
Antes de falar da música, vamos falar um pouco deste movimento musical que começou a crescer no início dos anos 70 e teve seu ápice entre os anos de 1976 e 1978.
Como todos sabem (ou presumo que saibam) o movimento Soul Music surgiu do Rythm & Blues, no fim dos anos 50, principalmente no sul dos Estados Unidos. Dois fatores foram fundamentais para o crescimento deste movimento: o primeiro foi quando o Rock'n Roll (também originário do Rythm'n Blues) atingiu seu ápice, alcançando a classe média branca. O segundo foi a fusão da música gospel, relegada ao ambiente de igrejas, com o embalo sistemático do Blues. Com estes dois elementos, mais a fundação da Tamla/Motown - que entrou num mercado dominado pel a Atlantic, especializada em cantores e músicos negros -, o Soul Music (em inglês, "música da alma") dominou o mercado entre o fim dos anos 50 até o fim dos 70.
No Brasil, o Soul Music aportou de maneira oficial com o surgimento da ATCO, um selo da Continental (Gravações Elétricas) especializado em relançar obras da Atlantic americana no território de Pindorama. Nesta mesma época, a defunda Rozemblit/Mocambo começa a trazer os primeiros discos da Motown para o Brasil. Como estas duas gravadoras tinham o cast mais conhecido entre o "soulman" (como eram conhecidos os cantores da Soul Music), ajudou e muito na divulgação do gênero.
Mas esta foi apenas a ponta do iceberg, afinal só lançar discos não quer dizer muito. Acontece que a música negra americana era um perfeito elemento que misturava balanço e ritmo. Logo, um monte de coisas acontecem ao mesmo tempo. Vejamos:
1) Miriam Makeba, cantora sul-africana, apresenta-se na TV Record em 1969, trazendo seu grande sucesso "Patah-patah". A música foi tão associada aos negros que tornou-se sinônimo daquele pente raso típico de quem possui cabelos curtíssimos;
2) Os cantores e compositores da Jovem Guarda, buscando uma maior gama de musicalidade - e menor rejeição dos intelectuais - começam a apostar em versões musicais de canções do Soul Music. É desta época a versão de "Unchain My Heart" ("Aceite Meu Coração"), cantada por Roberto Carlos e o lançamento do disco "Na Onda do Boogallo", de Eduardo Araújo, que misturava Black Music com rock sessentão inglês da melhor estirpe. Neste disco, surge um certo Tim Maia, ainda como compositor, na clássica "Embrulhe Esta Marmita";
3) Os "queridinhos" da época, os espetaculares Beatles, haviam lançado em 1965, um álbum clássico chamado "Rubber Soul". Neste disco, misturavam conceitos da música negra com o seu Rock amplificado, fugindo do conceito esteriotipado que carregavam de "mauricinhos". Neste disco, encontra-se um dos seus maiores clássicos, a belíssima "Eleanor Rigby", que anos depois seria cantada pelo grande mestre do Rythm'n Blues, Ray Charles;
4) A cereja do bolo foi o surgimento de alguns grupos fundamentais para assimilarem os conceitos da Soul Music com os nossos ritmos nacionais. É o caso da Brazuca, de Antônio Adolfo, dos Brasões, do cantor, arranjador e maestro Erlon Chaves e da música de Wilson Simonal, um entertainer por natureza, que curtia o sucesso da "pilantragem" (espécie de samba mais cadenciado e juvenil, criado pelo cafajeste mor Carlos Imperial).

Observando tudo isto, temos a dimensão exata de como a Soul Music entrou no território brasileiro. Mas por que só em 1976 é que ela atinge seu ápice?
Simples: até 1975, o Brasil viveu um dos períodos mais duros da sua história, que foi a fase das perseguições políticas. Neste instante, com os linha-duras no poder, não faltavam casos e pessoas que saiam para tomar café ou comprar um maço de cigarros e que não voltaram até hoje. Sair depois das 22 horas era assinar um atestado de suicídio, pois você poderia ser preso por transitar em lugar suspeito. Aliás, dez anos depois, o abusado baiano Raul Seixas brincaria com esta fase nebulosa do nosso Brasil em "Metrô Linha 743".
Com o afastamento de vários líderes da linha-dura do exército, a partir do governo Geisel, a galera sentiu um pouco mais de espaço para manifestar-se. Some-se a isto o fato de que, nas regiões mais carentes, o pobre era cada vez mais afastado do rico - se tu quiseres ter uma visão clara disso, assista o filme "Cidade de Deus" e recorde-se do prólogo, quando Buscapé fala como surgiu a Cidade de Deus. Bom, o povo mais pobre e mais carente não tinha condição de ficar indo a zona sul beber água de coco e dançar ao som do "Frenetic Dancin' Days". Logo, surge uma alternativa barata e simples, que era os "bailes funks".
Antes que algum gaiato venha me dizer que estes bailes funks de 1975 a 1978 era iguais a esta "funkeira" de qualidade duvidosa que impestia os bailes atuais, NADA A VER! Os bailes setentistas eram bem mais organizados, menos vulgares, era um lugar onde se debatia de filosofia a putaria, literalmente falando. A dança, entretanto, tinha um espaço maior, tudo milimetricamente coreografado e ritmado, em passos bonitos e malemolentes. Em tempos que as escolas de samba cada vez mais tornavam-se "empresas", aquela era uma forma deliciosa de o pobre poder expulgar sua raiva, questionando, dançando e curtindo. Com respeito e moderação, claro.
Muita gente de "responsa" cuidava dos bailes blacks. Um destes foi o grande Newton Duarte, o famoso Big Boy, que viria a falecer em 1975. Ele coordenava juntamente com Ademir Lemos os chamados "Bailes da Pesada", coisa fina mesmo, rolando de tudo do bom e do melhor do som negro americano e brasileiro: Stevie Wonder, Al Green, Marvin Gaye, Jacksons 5, Supremes, Dionne Warwick, Tim Maia, Cassiano, Hyldon, Dom Salvador, Soul Bateaux, Banda Veneno (do já falecido Erlon Chaves). Só som "dubão", como diria o síndico.
Carlos Dafé surge nesta época, junto com mais uma pilha de artistas ótimos que apareceram neste mesmo período: Dom Beto, Banda Black Rio, Lady Zu, Gerson "King" Combo, Tony Bizarro e outros. Carlos Dafé vinha numa linha mais romântica, mais envolvente, que ganhou o apelido de "farofada". O seu som não tinha um comprometimento tão grande com o questionamento soial quanto Gerson "King" Combo, por exemplo. O seu negócio eram aquelas melodias onde os casais ficavam juntinhos, dançando de maneira bem sensual, melódica, envolvendo... ou seja, preparando o terreno para o amor. Algo semelhante ao que era feito por Al Green, pelo Chi-Lites e pelo Isley Brothers.
"Pra Que Vou Recordar o Que Chorei?" explodiu na trilha da novela "Dona Xepa", da Rede Globo, juntamente com outro clássico do soul romântico, a belíssima canção de Dom Beto "Pensando Nela". A voz dramática do Carlos Dafé era o adtivo predileto dos casais que dançavam querendo esquecer o "sofrimento" e viver tudo aquilo que era bom. O mais interessante é que, embora a melodia seja bastante dramática, com tons graves constrastando com a violenta voz aguda de Dafé, a letra é altamente positiva. Uma influência das mulheres na nossa MPB? Pretendo falar sobre isto um dia, fazendo um artigo no Pr1meiras 1déias (http://primeirasideias.blogspot.com), bem como a minha tese de mestrado. Mas é algo mais a frente. Mas que a MPB deixou de ser um pouco mais triste com o apogeu das cantoras dos anos 70, não resta sombra de dúvidas.
O interessante é que o autor é categórico a todo instante. Olhem e curtam: "Não quero mais saber de ti/Vou me recuperar, quero sorrir". Ele não coloca a situação em dúvida ou questionamento. Ele afirma que vai mudar, que não vai mais sofrer e que irá sorrir. Para sacramentar a sua linha de pensamento, Dafé reafirma depois: "Pra evitar o sofrimento, não se deve, nesta vida, se envolver com a ilusão". Ou seja, somente aqueles que se iludem é que irão permitir sofrer os mandos e desmandos do amor.
A letra é simples, mas é uma mensagem bastante válida, ainda mais se consideramos que as pessoas vem, cada vez mais, desiludindo-se com os fatos e outras pessoas. Se formos parar para observar, nós nos desiludimos apenas quando permitimos que o outro seja a nossa única fonte de funcionamento. E não é: você existia antes do outro, será que agora deixará de existir? Lógico que não. Então, seguir em frente, nunca esmorecer, estar adiante dos fatos. Tudo isto torna, cada vez mais presente, a situação de você superar os desafios. Se achar que é somente uma música que fala de amor (o tema universal dos compositores), substitua por vida. O sentido será o mesmo.
Então, nada melhor pra começar o ano que uma música otimista, pra cima, que não alimenta desilusões, mas vitórias e felicidades. Uma verdadeira música da alma. Façam o download e deliciem-se!

sábado, 20 de dezembro de 2008

Como dividir minha dissertação argumentativa?


Uma das dúvidas mais comuns que escuto quando inicio um curso de Redação é esta: "Professor, eu tenho todas as idéia, sabe, mas na hora de passar para o papel, não funciona! Como eu faço"?


Bem, o problema deste aluno é a questão da ORGANIZAÇÃO do seu texto. Para um texto ser bem organizado, ele deve partir do pressuposto de que TODA IDÉIA PARA SER EXPLICADA TEM QUE ESTAR COERENTE. Logo, a criação da coerência - que explicamos no tópico anterior - é o primeiro passo para conseguir manter seu texto organizado.

Além disso, o que ajuda o aluno é sempre montar um esqueleto daquilo que ele irá escrever. Claro que não existe uma regra única para isto. Mas, se o aluno for esperto o suficiente, saberá que montando este sustentáculo, o seu texto terá uma esquematização muito maior do que um escrito de maneira "direta" (ou seja, o aluno empolga-se e sai "pipocando" idéias no papel sem organizá-las).

Para ajudar vocês, meus filhinhos e meus amores, papai Poeta organizou um esqueminha bem legal de estrutura do texto dissertativo. Antes que alguém pergunte porque não fiz o do texto narrativo, apenas busquei aquela que é a tipologia textual mais comum de ser cobrada nos vestibulares e concursos. Em outro momento, falarei da narração, artigo e crônica.


1) O começo da batalha: a introdução.


Na introdução, o aluno deve saber que, nesta fase, o texto não é para ser explicado, mas sim SUGERIDO. Ou seja, aqui não valem argumentações e justificativas. Vale apenas a EXPOSIÇÃO DA TESE (que iremos chamar de Tópico Frasal ou TF) e dos principais ARGUMENTOS DE SUSTENTAÇÃO (que iremos chamar de Idéias Secundárias 1 e 2 ou IS 1 e IS 2).

Sugestão para quem está iniciando: use um período para cada item destes. Ou seja, um para o TF, outro para o IS 1 e outro para o IS2. Quem não sabe ainda a diferença de período e parágrafo, aqui vai: o período é um conjunto de orações e o parágrafo é um pedaço da estrutura do texto que agrega períodos. Logo, NADA DE ESCREVER PARÁGRAFO COM UM PERÍODO SÓ.

Para o aluno criar o TF, ele deve transformar o tema em pergunta e direcioná-la para si próprio. Desta forma, a sua reflexão sobre aquela pergunta (logicamente, produto de sua resposta) será a sua tese, logo, o seu TF (tópico frasal, lembrando mais uma vez).

Em seguida, o aluno deverá pensar em dois pontos que JUSTIFIQUEM a sua resposta. Separando os dois, transforme-os em períodos e crie coesão entre eles. Pronto: estes dois períodos serão respectivamente a idéia secundária 1 e a idéia secundária 2. Coloque-os seguidos a seu tópico frasal(TF) e pronto: sua introdução já foi feita.


2) Explicando o que você está defendendo: o desenvolvimento.


Lembre-se sempre que o desenvolvimento é a parte que irá EXPLICAR o porquê do seu pensamento (sua tese ou tópico frasal) sobre o tema abordado. Desta forma, nele você irá apresentar todas as justificativas possíveis que expliquem, de maneira lógica e suscinta, as suas impressões sobre o texto.

Lembre-se sempre que temos DOIS DESENVOLVIMENTOS e equivalem a DOIS PARÁGRAFOS. Jamais faça uma redação com um desenvolvimento só, pois além de errar a estrutura, ainda existe um problema mais grave: irá deixar a redação cansativa e pouco esquematizada.

E como faço para criar os dois parágrafos de desenvolvimento? Lembra que lá na introdução você criou a IS 1(idéia secundária 1) e a IS 2(idéia secundária 2)? Pronto: agora você irá novamente transformá-las em perguntas e responde-las a partir dos SEUS CONHECIMENTOS sobre o assunto. Ou seja, você irá JUSTIFICAR SUAS JUSTIFICATIVAS PRINCIPAIS SOBRE O TEMA. É bom lembrar que cadaum dos parágrafos de desenvolvimento deve ser, NO MÍNIMO, do mesmo tamanho da introdução e sempre maiores que o e conclusão.

Uma boa idéia para organizar eles é colocar sobre a forma de ítens para cada idéia secundária que gerar um parágrafo de desenvolvimento. E se o tema pedir "confronto de idéias", mais fácil ainda: basta colocar, em um parágrafo, uma idéia e, no outro, a idéia que vai de encontro a essa.


3) A hora de afirmar tudo o que disse: a conclusão.


A conclusão nada mais é que uma reiteração das idéias abordadas anteriormente no texto. Logo, ela parte do princípio de que você precisa encerrar seu texto reforçando sua tese, apontando soluções e sugestões acerca do tema e fazendo suas considerações finais sobre o assunto.

Para reforçar a tese, basta você sempre realçar, de maneira mais afirmativa possível, tudo que você dissera no tópico frasal. É o que chamamos de "retomada do TF", ou seja, o instante em que você reafirma o que pensa diante do tema que lhe foi confrontado.

Logo em seguida, você irá criar um período apresentando soluções e sugestões acerca do tema. Invista bastante nisto: afinal, a instituição quer que você RESOLVA O PROBLEMA. Como você irá resolvê-lo? Procure mostrar idéias que contrariem a problemática do tema e que sejam viáveis dentro da realidade brasileira ou mundial (neste ponto, depende de como o tema será enxergado). Se você pensar por este ângulo, verá que as soluções e sugestões são justamente tudo aquilo que primeiro pensamos acerca de qualquer tema, seja numa redação ou na nossa própria vida.

Por fim, trace suas considerações finais. O ideal é que seja produzida uma acertiva que mostre como as suas idéias foram pensadas e dando sempre um toque de esperança e de expectativa para que o problema seja solucionado. Só se lembre de que NUNCA deve-se usar chavões populares ou frases de efeito. Se você apelar para isso, mostrará pouco conteúdo ou lugar-comum e irá perder pontos preciosos na sua redação.


4) Pensando em ainda mais facilitar a vida de vocês, segue o desenho de um esqueminha que uso toda vez em sala de aula. Quem quiser, pode questionar, acrescentar ou modificar algumas coisas, desde que estes ítens NÃO SAIAM do local onde foram inseridos. Afinal, não faz sentido começar uma redação já mostrando soluções para um problema que sequer foi pensado.




Para treinar, sugiro que façam uso deste tema: "Num mundo de desilusões, nossos sonhos viram cada dia mais utopias".
Beijos para as meninas.
Aos rapazes, apenas um aceno de longe.
Prof. Raimundo Poeta

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"Tarde em Itapuã"(Vinícius/Toquinho)

Raimundo Poeta e seu grande amigo, o poetinha Vinícius de Moraes


"Tarde Em Itapuã"
Um velho calção de banho,
Um dia pra vadiar,
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar.


Depois da Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E, numa esteira de vime,
Beber uma água de coco, é bom...


Passar uma tarde em Itapuã,
Ao sol e mar de Itapuã,
Ouvindo o mar de Itapuã,
Falar de amor em Itapuã.

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha.


E, com um olhar esquecido,
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo,
A terra toda a rodar, é bom...


Passar uma tarde em Itapuã,
Ao sol e mar de Itapuã,
Ouvindo o mar de Itapuã,
Falar de amor em Itapuã.


Depois sentir o arrepio
E o vento que a noite traz
E um diz-que-diz macio
Que mora nos coqueirais.

E nos espaços serenos,

Sem ontem, nem amanhã

Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã, é bom...


Passar uma tarde em Itapuã,
Ao sol que arde em Itapuã,
Ouvindo o mar de Itapuã,
Falar de amor em Itapuã.


Lançada em 1972 no disco "Vinícius, Toquinho e Marília Medalha" (RGE-Fermata), embora tenha sido composta um ano antes, "Tarde em Itapuã" é um clássico absoluto da nossa MPB. O engraçado é que a praia que serve de inspiração não é exatamente Itapuã, mas a Praia dos Coqueiros, localizada na divisa entre Piatã e Plakafor.
Na verdade, há um pouco de cada nesta história. Algumas pessoas moradoras da antiga Rua J de Itapuã (hoje Rua da Poesia, onde também reside Juca Chaves), onde viveu Vinícius entre 1970 e 1974 - tempo em que ele foi "casado" com Jessy-Jessy - afirmam que o poetinha escrevera os versos admirando a praia de Itapuã da varanda de sua casa. Entretanto, uma versão mais fidedigna parte tanto da Jessy-Jessy quanto do Toquinho, de que Vinícius odiava a Praia do Farol (a verdadeira praia de Itapuã) e que fizera a música numa das suas muitas passagens pela Praia dos Coqueiros. Hoje, infelizmente, o local tornou-se uma região popularesca, cheia de barracas tocando som de péssima qualidade, com a areia e a água sujas, sendo que a sua noite é ponto principal de "pisteiras", termo pelo qual são chamadas as garotas de programa que vivem nas ruas.
Entretanto, voltemos para uma Salvador bucólica de fins de 1960 e início dos 70. Poucos sabem, mas nesta época, nossa cidade era tudo, menos evoluída. Com excessão do centro, o resto da capital respirava ares de província. Não existia Avenida Paralela, tudo era mato - havia apenas o projeto do Centro Administrativo. Pituaçu, Boca do Rio, Armação, Jardim dos Namorados e Jaguaribe eram chamadas de "subúrbio norte de Salvador". A Cidade Baixa era um completo lamaçal, sendo urbanizada apenas do Comércio a Igreja do Bonfim - a Avenida Tiradentes, outra via do local, era de terra batida, fato que acabou dando o seu nome definitivo: Caminho de Areia.
Não havia ainda para ninguém Cajazeiras, o mega-projeto de urbanização popular surgido em 1974. Bairros como Sete de Abril, Pirajá e Castelo Branco eram verdadeiras "cidades do interior", distantes mais de duas horas de tudo. A BR-324 não passava de uma via simples (hoje é dupla). Não existia Acesso Norte, você tinha que obrigatoriamente passa pela Barros Reis (recém-feita nos anos 60) e pelo Retiro (bairro afastado e pouco populoso na época) para entrar na recém-inaugurada Avenida Mário Leal Ferreira, conhecida como Bonocô - pois localizava-se no vale que dividia Brotas. Esta era um bairro bem simples, loteado dentro de uma fazenda, sem maiores atrativos. São Caetano e Pau da Lima eram outros dois bairros bastante estagnados e que cresciam quase que como distritos independentes.
Esqueça Iguatemi. Salvador possuia apenas dois shoppings, se é que podiam ser chamados assim: de um lado, o Shopping Largo do Tanque (na realidade, chamava-se Centro Comercial Largo do Tanque, a alcunha shopping só veio surgir nele nos anos 80) e, do outro, o Shopping Orixás Center, no Politeama, com umas quinze ou vinte lojas, mal estruturado e que hoje é um dos lugares mais adequados para se alugar roupas de festa a rigor ou casamentos. E, dizem os entendidos, point gay da cidade. Não ando por lá pra afirmar!
Dentro deste contexto, voltemos para Itapuã, um bucólico bairro de subúrbio, sem nenhuma sofisticação, com casas de veraneio de famílias melhores financeiramente que a maioria da população local, representada pelos pescadores que moravam pelas cercanias. Algo como a Barra no fim do século XIX.
Quando Vinícius por aqui chegou, procurou um lugar bastante afastado para morar. E Itapuã era o lugar mais indicado para isto. Tudo que ele queria era poder amar Jessy-Jessy, fazer seus poeminhas, receber seus amigos e, principalmente, degustar de whisky, amendoim e da sua banheira em um toillet repleto de imagens de bundas. Verdade!
É claro que, mesmo indo para um bairro afastado, a chegada de Vinícius a Salvador não deixou de ser um fato bastante comentado na mídia ainda provinciana existente na cidade. Para se ter uma idéia, embora tivessemos quatro jornais de grande circulação (A Tarde, Jornal da Bahia, Diário de Notícias e o recém-criado Tribuna da Bahia), existiam somente duas emissoras de televisão naquela que era a quarta maior capital do país em população: a TV Itapuã e a TV Aratu. Talvez este fator tenha sido até, de certa maneira, o responsável por fazer a visita de Vinícius ser bastante comentada. Há o caso, que inclusive tomou proporções nacionais, do poema que Vinícius fizera criticando o prefeito Clériston Andrade pela ausência de um poste de luz em Itapuã. Aliás, isto é típico das cidades provincianas e Salvador não perdeu, ainda hoje, este estilo. Tanto que até hoje alimenta o estigma de ser "um ovo". Qual bom baiano nunca ouviu a expressão "Salvador é um ovo, todo mundo encontra todo mundo". E olhe que temos quatro milhões de habitantes!
Quando Vinícius pensou em "Tarde em Itapuã", sua intenção era simplesmente poder homenagear aquele bairrozinho que o acolhera tão bem. O engraçado é que a música parece funcionar justamente onde Toquinho e Jessy-Jessy alegam ser a real inspiração. Quando você chega na região da Praia dos Coqueiros - logo após o SESC-Piatã e o Costa Verde Tennis Clube -, mentalmente já escuta a música ressoar na tua mente. O clima ameno do lugar, mesmo com todos os problemas da atualidade, dão a tônica daquele ambiente gostoso e "vagabundo" que Vinícius incita na sua letra (Um velho calção de banho/Um dia pra vadiar/Um mar que não tem tamanho/E um arco-íris no ar). Um colega meu do tempo em que fiquei na PM costumava dizer nas nossas apresentações do coral: "Isto é música tipicamente de velho cachaceiro". O pior que não deixa de ser verdade; mas, claro, no bom sentido.
Outro fato que ajudou bastante a evolução da letra foi a melodia imposta por Toquinho. Imposta sim. Poucos sabem, mas Vinícius ainda achava Toquinho meio "moço demais" para compor (embora, na época, ele já contasse uns 28 anos, tivesse experiência de festivais e fôra aluno do grande mestre Paulinho Nogueira). E o que deu? Uma harmonia tão bem feita, mas tão bem feita que não há quem consiga desvencilhar-se dela. Reza a lenda que Toquinho inspirou-se nos modos musicais dos "sambas da Bahia" de Dorival Caymmi e nos seus maneirismos para criar a composição. Aliás, é bastante engraçado perceber que muita gente confunde "Tarde em Itapuã", atribuindo a obra justamente a Dorival Caymmi. O que, justiça seja feita, seria válido, pois tanto a dupla Vinícius & Toquinho quanto o Dorival Caymmi são donos de uma herança rica da nossa música popular.
O refrão é de uma simplicidade tamanha e, ao mesmo tempo, de uma beleza incomensurável. Quando é cantado o Passar uma tarde em Itapuã/Ao sol que arde em Itapuã/Ouvindo o mar de Itapuã/Falar de amor em Itapuã, não existe ser humano no mundo que consiga dizer de envolver-se. Mérito novamente da bela parceria: enquanto Vinícius utilizou seu jeito simples de criar uma letra sem complicações ou papo-cabeça (fato que inclusive o levou a ser taxado de alienado e compositor de easy music), bastante emotiva e ausência quase total de verbos (note que a maioria dos versos estão escritos em orações reduzidas no gerúndio e no infinitivo), Toquinho aprimorou o nível do toque de teu violão, dando mais destaque ao instrumento nesta parte da canção. Parece-nos que o balançar do coqueiro é quem dita as trilhas da canção. Um compasso lento, mas que no refrão levemente aumenta. Parece-nos uma conversa de amigos num boteco, falando das virtudes dos "braços morenos da lua de Itapuã" e cantando em uníssono o doce refrão.
Quem também deu um toque todo especial a canção foi a belíssima cantora Marília Medalha, que a esta época já sofria o pão que o diabo amassou pela perseguição ao seu marido, o dramaturgo Isaias Almada. Aliás, que país este nosso, hein? Se por um lado valorizamos grandes cantoras como Clara Nunes, Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia, por outro esquecemos cantoras tão quão ou até mais encantadoras, que poderiam ter tido um outro caminho no mainstream se fizessem certas concessões absurdas. Só para citar, temos Diana Pequeno, Maria Creuza(esta era a cantora favorita do Vinícius), a própria Marília Medalha, Cláudia, Maria Odette, Doris Monteiro, Joyce, Jane Duboc, Fátima Guedes, Zezé Motta... mas é isso, cada país tem a Barbra Streisand que merece. No nosso caso, a Ana Carolina. Argh!
A participação de Marília com sua voz grave e madura (embora fosse uma jovem de 29 anos) é de uma riqueza extrema. Graças a ela, sentimos um gostoso envolvimento feminino com a música, atmosfera que Vinícius sempre explorou e muito bem - apesar de notadamente machista e, de certa maneira, conquistador barato. Não são só os homens que vêem as virtudes de Itapuã; as mulheres também. De preferência aquelas maduras e independentes, personalidade que Marília adquire com vigor e paixão. O seu cachaça de rolha é uma das mais gostosas intervenções feitas por uma mulher numa canção cuja letra fora feita pelo Vinícius. Só tem uma que consegue superá-la, a Maria Creuza em "Eu Sei Que Vou Te Amar", justamente com a participação do poetinha Vinícius e lançada no mesmo 1972.
Deixo aqui, para download, esta belíssima canção, um dos marcos da nossa MPB. Com toda certeza, uma audição tão gostosa quanto sentir o arrepio e o vento que a noite traz, bebendo uma cachaça de rolha e dormindo nos braços morenos da lua de Itapuã. Boa audição!

A nova regra ortográfica da Língua Portuguesa


Todo mundo já deve estar careca de saber que, a partir de 1º. de janeiro de 2009, entra em vigor a nova regra ortográfica da Língua Portuguesa. Na verdade, o que pouca gente sabe é que, pela primeira vez na história, a mesma será unificada entre todos os países falantes dessa. Aliás, este acordo já encontrava-se no papel desde 1994, mas ainda não havia sido cumprido por conta de negativas de alguns países mais pobres (como Moçambique e Cabo Verde), que alegavam não ter dinheiro para produzir novos livros de Língua Portuguesa com a regra atualizada.
O objetivo da APLP (Associação dos Países de Língua Portuguesa) parte do princípio de que, unificando a nossa língua, as diferenças culturais também caiam, unificando cada vez mais as terras outrora conquistadas pela "terrinha". Seria um re-colonialismo? Por incrível que pareça, não - ao que se percebe, agora a gramática irá se aproximar muito mais do que é usado no Brasil do que em Portugal, embora isto seja apenas um teorema. O que não quer dizer, entretanto, que todo mundo irá sair falando o mesmo idioma. Haverá, sim, os dialetos(o Português Pátrio, o Português Brasileiro, o Português Angolano, dentre outros), mas a NORMA, esta sim, será única.
Agora, e o que vai acontecer quanto a norma? Bem, de cara, antecipo que algumas mudanças são interessantes, mas outras parecem ser uma "fumada de orégano". Primeiro, vamos falar das "bacanas", depois das "doidonas".
Das mais valorosas, certamente está o fim de muitas regras de paroxítonas, como a dos ditongos abertos(ei e oi). Por exemplo, acabaram os acentos em jibóia, em tramóia, em colméia, em prosopopéia. Também acaba o acento no "oo" e no "ee", que geralmente são verbos conjugados no plural. Assim, dê tchau para vêem, vôo, enjôo... agora serão veem, voo e enjoo.
Outro pesadelo dos alunos (boa notícia para meus filhinhos e meus amores) é o fim dos acentos nas formas rizotônicas de "i" e "u", precedidos de "g" e "q" e sucedidos de "e" ou "i". Assim, caem os acentos de argúi, averigúe, enxagúe... na verdade, isto NÃO É próprio da língua portuguesa no Brasil, mas em alguns países africanos. Apesar disso, uma complicação a menos.
Por fim, está a mudança no "i" e "u" tônicos precedidos de ditongo (tanto crescente quanto decrescente). Ou seja, pulam fora as formas baiúca, boiúna, cheíinho...
São boas notícias? Com certeza. Mas agora vêm as ressalvas. E elas são muitas.
Particularmente, não vejo com bons olhos a entrada do k, w e y. Por que, professor? Pelo seguinte: estas letras não são originárias do filo latino, mas do filo germânico (que deu origem ao alemão e ao inglês). Ou seja, estão sendo inseridas por um contexto de globalização. É importante globalizar a língua? Claro, mas a questão é que NÃO EXISTEM palavras na Língua Portuguesa que possuam k, w ou y. Isto irá abrir a possibilidade de inserção de palavras que NÃO SÃO de origem portuguesa, como marketing. O que pode ser bom ou não, a depender do uso. E pode, simplesmente, exterminar algumas palavras originárias da nossa língua, como publicidade (que é o marketing, oras).
Outro problema ocorre com a extinção do trema (¨). Na verdade, o trema é um sinal gráfico realçador de uma vogal ou semi-vogal. Na Língua Portuguesa, o mesmo só era utilizado na letra "u" para diferenciá-la do dígrafo "gu"(que tem som de "g") e "qu"(que tem som de q). Assim, freqüente, por exemplo, passa a ser escrita como frequente. E corre o risco do aluno não entender por que dizemos freqUente e de não dizer qUestão. Caberá aos professores terem o raciocínio de não perderem o propósito do trema para poder argumentar com os seus alunos.
Agora, de todas as mudanças, a que achei a maior "cheirada de adoçante" foi a do hífen. Tudo bem que este "tracinho" sempre atrapalhou a cabecinha de muita gente, inclusive deste que vos fala. Porém, devemos entender que isto irá criar um sério problema na cabeça dos alunos, principalmente na alfabetização. Eu diria que noventa por cento das palavras que usavam hífen deixarão de utilizá-lo. Por outro lado (talvez para compensar), algumas que NÃO TINHAM passam a utilizá-lo.
Basicamente, deixam de usar hífen nas palavras formadas por prefixos ou falsos prefixos terminados em vogal e sucedidos por palavras que começam por "r" ou "s". Ou seja, ante-sala passa a ser antessala. E auto-retrato passa a ser autorretrato. A excessão ocorre se o prefixo ou falso prefixo terminar em "r" ou "s", como em hiper-realista. Ela continua hiper-realista.
Também se extingüe o hífen nas palavras formadas por um prefixo ou falso prefixo terminado em vogal e sucedido de palavra iniciando com vogal. Então, dê adeus para auto-afirmação, auto-escola, semi-árido... com a regra, tornam-se autoafirmação, autoescola e semiárido. Bom para aquele "tiozinho" que montou uma auto-escola e o "burro" do letreiro escreveu "autoescola". Ele não precisa jogar a placa fora, basta esperar que em 1º de janeiro de 2009 ela estará CORRETA e nenhum professor de Língua Portuguesa poderá usar como exemplo de "erro abominável". Lamentável!
Outra forma que deixa de usar hífen são os compostos que, pelo uso, perderam noção de composição. Então, saem de cena manda-chuva, guarda-chuva e pára-raios e entram para o espetáculo mandachuva, guardachuva e pararraios. A Warner, em tempos de crise, vai gastar uma grana preta mandando refazer as caixas dos boxers do Manda-Chuva, seu clássico desenho animado sobre um gato malandrão. Aliás, um dos meus favoritos!
Também deixam de usar hífen as locuções de qualquer tipo: substantivas, adjetivas, prepositivas, pronominais, conjuntivas, adverbiais... ou seja, agora serão fim de semana, sala de jantar, cor de vinho... porém, algumas locuções preservarão o hífen, como água-de-colônia, pão-de-mel, pé-de-meia, ao-deus-dará, dentre outras.
Quem passa a usar hífen obrigatoriamente são as palavras com prefixo ou falso prefixo terminado na mesma letra que inicia a palavra posterior, como em antiinflamatório e microorganismo. Neste caso, tornam-se anti-inflamatório e micro-organismo. De resto, continuará tudo como dantes no quartel de Abrantes.
A minha ressalva quanto a extinção do hífen não é implicância gratuita. É que simplesmente ele está sendo abolido por um capricho, sem nenhuma justificativa plausível - até agora não vi uma que me convencesse. A mais próxima disto foi quando afirmaram que o hífen fazia com que algumas palavras ficassem muito mal esquematizadas. Mas, se foi por isto, por que não se aboliu o hífen de maneira permanente ou o instituiu em definitivo? Putzgrila, era tão mais simples... mas, basicamente, inverteu-se a ordem dos elementos para dizer que foi dado uma "gabaritada" na nossa língua. Particularmente, achei que é apenas uma mudança sem pé, nem cabeça.
Outra coisa que não entrou na minha cabeça foi a extinção dos acentos diferenciais, como em péla, pêra, pára... agora serão pela, pera e para. Imagine você lendo um outdoor na rua e, de repente, topando como "Não vá para"... aí você pensa "oxe, não ir para onde?" e, do nada, tu cais numa cratera, como se tivesse se projetado do Elevador Lacerda... triste, muito triste, triste até demais.
Bem, como professor de Língua Portuguesa, rezo e espero que as mudanças propostas ajudem e não atrapalhem nossos alunos. A minha torcida é que isto auxilie e facilite o ensino, mas confesso que não ando muito crente que isto venha a ocorrer. Ao contrário, temo que a nova regra mais atrapalhe do que ajude. Vamos ver o que irá acontecer a partir de 1º. de janeiro do próximo ano, quando ela entrará em vigor.
Em tempo: a nova regra entra em vigor a partir de 1º. de janeiro de 2009 sim, mas ela co-existirá com a regra antiga (no Brasil, presente desde 1971) até 31 de dezembro de 2011. Somente em 1º. de janeiro de 2012 a nova regra será obrigatória. Ou seja, por enquanto, não se preocupe com fim de trema, uso de hífen e acentuação em ditongos abertos e o escambau. Mas já é bom ir treinando no decorrer do ano que vem para você fazer bonito a partir de 2012.
Beijos para as meninas.
Aos rapazes, apenas um aceno de longe.
Prof. Raimundo Poeta

O problema do PERÍODO ÚNICO


Meus filhinhos e meus amores, papai Poeta veio aqui bater um papinho com vocês.

Como vocês sabem, um dos maiores "pepinos" que os alunos encontram na prática da Redação refere-se a divisão dos períodos dentro de um parágrafo. Como assim, professor? Bem, o que ocorre é que muitos alunos "empolgam-se" ou simplesmente querem terminar logo a Redação, escrevendo de maneira ininterrupta o texto. Desta forma, o mesmo termina por apresentar um parágrafo com PERÍODO ÚNICO, o "bicho-grilo" a ser debatido (e debelado) hoje.
Vamos pensar um pouco: como surge um período único? Como já vimos, o aluno pode entusiasmar-se demasiadamente ou querer livrar-se da trabalheira que é elaborar um texto (professor, isto foi dito antes, o senhor está dando uma de Telletubbie? Dãããããã...). Só que aí ocorre algo interessante: o aluno desencadeia todas as suas idéias sem organizá-la, seja para um como para o outro ponto. Desta maneira, ele acaba "disparando" as idéias no papel, na maneira que vem a mente. Ah, professor...
Antes que alguém me pergunte "o que é um período", PERÍODO nada mais é do que um conjunto de ORAÇÕES. Sabemos que cada oração, EXCETO AS REDUZIDAS, são identificadas por um verbo. No caso das reduzidas, o verbo está subtendido a partir da forma nominal presente(particípio, gerúndio e infinitivo).
O que pode ajudar o aluno a evitar fazer o período único é simplesmente pré-estruturar todos os parágrafos. Vamos lembrar? Bem, numa DISSERTAÇÃO, teremos exatamente quatro ou cinco parágrafos: um de introdução, dois ou três de desenvolvimento e um de conclusão. Beleza? Então, show de bola... agora nossa luta será para entender como cada um deles pode ser organizado. Observem abaixo:

1. No parágrafo de introdução, nós sempre teremos três idéias básicas:

a) Tópico Frasal: é a idéia principal do texto, aquela que apresenta exatamente aquilo que será defendido na dissertação;
b) Idéia secundária 1: é a idéia que irá introduzir os argumentos presentes no desenvolvimento 1;
c) Idéia secundária 2: é a idéia que irá introduzir os argumentos presentes no desenvolvimento 2 (dããããããã...).

2. Nos parágrafos de desenvolvimento, teremos sempre a divisão de idéias que estejam defendendo a idéia principal, ou seja, que provem, argumentem, ilustrem o que foi apresentado como tese inicial;

3. Na conclusão, entram em cena:

a) A retomada do tópico frasal, por meio de uma confirmação do mesmo;
b) Apresentação de soluções e sugestões para a problemática abordada;
c) Considerações finais, o fechamento da sua redação.

Prontinho? E o que tudo isso tem a ver, professor? Bem, de posse destas informações, é só você pensar um pouquinho que elas podem ser SEGMENTADAS em períodos isolados. Cabe a vocês, meus filhinhos e meus amores, buscarem conectivos para formarem a COERÊNCIA TEXTUAL do mesmo.

"Ah, professor... agora entendi... então, eu tenho que fazer de cada tópico presente um período e depois juntá-los"? Isto mesmo, meus filhinhos e meus amores. Ah, ainda está com dúvida? Vou exemplificar para ficar mais fácil:

1) Vamos preparar uma introdução para o tema: "Violência só gera mais violência". Para isto, sabemos que teremos a necessidade de usar de:

a) Tópico frasal(um período);
b) Idéia secundária 1(outro período);
c) Idéia secundária 2(mais um período).

2) Agora, vamos pensar: por que violência gera mais violência? Como exemplo, chegamos a esta conclusão básica: "O homem sempre foi violento, mas hoje esta situação está atingindo níveis descontrolados". Pronto, isto não explica o que você pensa sobre o assunto? Então, agora é só fazer o seguinte: USÁ-LA COMO SUA TESE! Logo, será seu TÓPICO FRASAL.

T.F. = O homem sempre foi violento, mas hoje esta situação está atingindo níveis descontrolados.

3) Agora, vamos novamente nos perguntar: por que a violência sempre existiu? Como exemplo, podemos dizer que "a violência sempre fez parte da vida do homem e, em alguns instantes, até garantiu a sobrevivência dele". Para não "gastarmos" muitas idéias, vamos sintetizar. Podemos deixar este período como a IDÉIA SECUNDÁRIA 1. Vejamos como pode ficar?

I. S. 1 = É verdade que a violência sempre existiu e até foi necessária em termos de sobrevivência humana.

4) Bom, não fizemos a Idéia Secundária 1? Para a IDÉIA SECUNDÁRIA 2, é só usar a segunda frase do tópico frasal como questionamento. Para sintetizar o blá-blá-blá (a regra é a mesma da Idéia Secundária 1), poderia ficar assim:

I. S. 2 = Porém, hoje a mesma está se tornando inconseqüente e alimentando um continuismo que proporcionamente torna-se maior a cada dia.

5) Fez as três idéias? "Ah, professor... agora saquei"! Entenderam, meus filhinhos e meus amores? É só usar os conectivos adequados, não repetir palavras e voilá: eis aí o seu parágrafo de introdução SEM PERÍODO ÚNICO:

O homem sempre foi violento, mas hoje esta situação está atingindo níveis descontrolados. É verdade que a violência sempre existiu e até foi necessária em termos de sobrevivência humana. Porém, hoje a mesma está se tornando inconseqüente e alimentando um continuismo que proporcionamente torna-se maior a cada dia.

Pronto! Tiveram alguma dificuldade? Espero que não! Em caso positivo, postem suas dúvidas nos comentários ou na Tira Dúvidas - Português, lá no Orkut. Espero vocês, ok?

Beijos para as meninas.
Aos rapazes, apenas um aceno de longe.


Raimundo Poeta

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Vagando"(Paulinho Pedra Azul)



No céu, entre as estrelas, vou cantando
e a terra vai formando um coração.
Palavras são tão poucas pra dizer
que estou vagando assim só por amor.

Ferido, chorando,
com o peito ardendo em chamas.
Estou morrendo em minhas mágoas,
transbordo a lua e vejo o mar.
Não é nem sonho ou fantasia,
é a dor constante e a agonia
de um coração cantando amor.


Esta música ficou conhecida em todo Brasil no ano de 1981, quando Diana Pequeno gravou-a no seu terceiro disco, "Sinal de Amor", ocupando a faixa 3 do lado A. O mesmo foi lançado pela RCA-Victor.
Trata-se de uma das mais belas canções interpretadas por esta injustiçada cantora, na minha opinião uma das melhores que o Brasil já teve. Já autor, Paulinho Pedra Azul, é um dos compositores pertencentes a "geração mineira" que despontou nos anos 70 e que ficou conhecida como "Clube da Esquina".
A mesma classifica-se como sendo uma modinha, estilo musical bastante forte no início do século XX no Brasil. Entretanto, ao andamento, foram utilizados caracteres presentes também na música nordestina, como o uso de viola caipira.
O mais interessante desta composição foi a forma como Paulinho Pedra Azul trabalhou alguns elementos. Nota-se que o assunto da mesma gira em torno da questão dos sentimentos humanos, em especial, o amor. Aliás, o amor é um dos temas mais recorrentes na nossa MPB e, como não poderia deixar de ser, o Paulinho Pedra Azul utiliza-o, mas sem cair nos moldes vulgares e nos lugares-comuns, típicos de autores que só pensam em faturar sobre este "tema universal".
Observe que a palavra "vagando" é a forma nominal no gerúndio do verbo "vagar". Ora, e o que isto interessa na música? Acontece que o autor preocupa-se em usar verbos, em sua maioria, na forma nominal, seja no gerúndio(formando, chorando, cantando) ou no particípio(ferido). E o infinitivo? Aí que vem a grande questão: o autor não se preocupa com o futuro, mas quer saber do presente. Ele demonstra, através disso, que se a dor é uma "constante" em sua vida, ele espera seguir em frente (vagando), buscando assim cantar o seu amor (de um coração cantando amor) um dia.
Aliás, note o predomínio de verbos de ligação (ser e estar), o que demonstra um paradoxo: se o verbo vagar tem valor de ação, como pode ser ligado por um verbo que indica justamente estado? Podemos entender, desta maneira, como uma espécie de "limitação" imposta ao eu-lírico, que sonha em conseguir cantar o seu amor, mas é impedido por conta de um elemento estático que o liga (ou desliga) ao ato de vagar.
Embora triste, a música não é desesperançosa. Note que o autor, logo de cara, posiciona-se ao alto (No céu, entre as estrelas, vou cantando). Ou seja, para ele o que importa é cantar, independente de que alguma coisa o impeça. Além disso, note que ele sabe de suas limitações (Não é nem sonho ou fantasia/É a voz constante, é a agonia), mas nem por isso quer deixar de cantar o amor.
Segue aqui o link para download da música. Lembre-se que este arquivo deve ser deletado do seu computador e é apenas para poder fazer uma leitura melhor a partir da canção. Boa audição!

Olá, falantes da Língua Portuguesa!

Flor do Lácio Sambódromo
Lusa América Latina em pó
O que quer, o que pode
Esta língua?
Nada mais adequado que senão os versos do grande santoamarense Caetano Viana Telles Veloso para abrir o nosso blog.
A nossa proposta será fazer toda uma análise sobre a nossa Língua Portuguesa. Assim, neste espaço serão transmitidos aspectos da nossa oralidade; dicas de gramática normativa; análises comparativas entre os falantes da Língua Portuguesa; análises críticas de textos, poemas, letras de músicas da MPB e imagens; dicas e aspectos das técnicas de Redação; e, por fim, material inédito escrito por mim, Raimundo Poeta, e pelos meus colaboradores.
Esperamos a sua participação em nosso espaço, como forma a contribuir, cada vez mais, no crescimento do mesmo, que objetiva não somente atender aquelas pessoas que amam Língua Portuguesa, mas aquelas que também possuem dúvidas cruciais sobre esta.
Estaremos interagindo com a nossa comunidade no Orkut, a "Tira Dúvidas - Português", cujo endereço é este:
As dúvidas mais interessantes, inclusive, serão tratadas aqui no Língua do Lácio Sambódromo, ok?
Estamos esperando vocês!
Beijos para as meninas.
Aos rapazes, apenas um aceno de longe.

Raimundo Poeta