quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Vagando"(Paulinho Pedra Azul)



No céu, entre as estrelas, vou cantando
e a terra vai formando um coração.
Palavras são tão poucas pra dizer
que estou vagando assim só por amor.

Ferido, chorando,
com o peito ardendo em chamas.
Estou morrendo em minhas mágoas,
transbordo a lua e vejo o mar.
Não é nem sonho ou fantasia,
é a dor constante e a agonia
de um coração cantando amor.


Esta música ficou conhecida em todo Brasil no ano de 1981, quando Diana Pequeno gravou-a no seu terceiro disco, "Sinal de Amor", ocupando a faixa 3 do lado A. O mesmo foi lançado pela RCA-Victor.
Trata-se de uma das mais belas canções interpretadas por esta injustiçada cantora, na minha opinião uma das melhores que o Brasil já teve. Já autor, Paulinho Pedra Azul, é um dos compositores pertencentes a "geração mineira" que despontou nos anos 70 e que ficou conhecida como "Clube da Esquina".
A mesma classifica-se como sendo uma modinha, estilo musical bastante forte no início do século XX no Brasil. Entretanto, ao andamento, foram utilizados caracteres presentes também na música nordestina, como o uso de viola caipira.
O mais interessante desta composição foi a forma como Paulinho Pedra Azul trabalhou alguns elementos. Nota-se que o assunto da mesma gira em torno da questão dos sentimentos humanos, em especial, o amor. Aliás, o amor é um dos temas mais recorrentes na nossa MPB e, como não poderia deixar de ser, o Paulinho Pedra Azul utiliza-o, mas sem cair nos moldes vulgares e nos lugares-comuns, típicos de autores que só pensam em faturar sobre este "tema universal".
Observe que a palavra "vagando" é a forma nominal no gerúndio do verbo "vagar". Ora, e o que isto interessa na música? Acontece que o autor preocupa-se em usar verbos, em sua maioria, na forma nominal, seja no gerúndio(formando, chorando, cantando) ou no particípio(ferido). E o infinitivo? Aí que vem a grande questão: o autor não se preocupa com o futuro, mas quer saber do presente. Ele demonstra, através disso, que se a dor é uma "constante" em sua vida, ele espera seguir em frente (vagando), buscando assim cantar o seu amor (de um coração cantando amor) um dia.
Aliás, note o predomínio de verbos de ligação (ser e estar), o que demonstra um paradoxo: se o verbo vagar tem valor de ação, como pode ser ligado por um verbo que indica justamente estado? Podemos entender, desta maneira, como uma espécie de "limitação" imposta ao eu-lírico, que sonha em conseguir cantar o seu amor, mas é impedido por conta de um elemento estático que o liga (ou desliga) ao ato de vagar.
Embora triste, a música não é desesperançosa. Note que o autor, logo de cara, posiciona-se ao alto (No céu, entre as estrelas, vou cantando). Ou seja, para ele o que importa é cantar, independente de que alguma coisa o impeça. Além disso, note que ele sabe de suas limitações (Não é nem sonho ou fantasia/É a voz constante, é a agonia), mas nem por isso quer deixar de cantar o amor.
Segue aqui o link para download da música. Lembre-se que este arquivo deve ser deletado do seu computador e é apenas para poder fazer uma leitura melhor a partir da canção. Boa audição!

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